A SECA, Jane Harper
Jane Harper, 2016
Editora Asa (@asa_editora)
Senti os lábios secos, pó na boca, calor e sede…
Comecemos com um cliché: gosto de ler livros que me façam “sentir coisas”! Não me refiro tanto a estados de espírito (tristeza, felicidade, angústia…) mas “coisas” que me façam sentir lá, junto dos protagonistas, naquele lugar, "atmosfericamente" inserido.
Este último verão A Seca, de Jane Harper, encheu-me as medidas!
O cenário não podia ser mais condizente com o título da obra. Uma vila esquecida na Austrália que definha aos poucos com a seca que atravessa, potenciada pelo tal calor sufocante da sua desértica localização.
A imagem da desolação e prostração é muito bem espelhada pela autora, com uma perspicaz caracterização das personagens e do seu ambiente. No entanto, este é um thriller, um policial. E embora não seja um policial eletrizante, com grandes cenas de ação, tem o seu clássico crime que é o gatilho para tudo o que se segue.
O crime é macabro, com descrição um tanto gráfica mas não desapropriada, e o aparente brutal homicídio perpetrado por um filho da terra (Luke), que vitimiza esposa e filho e posteriormente se suicida, faz regressar um velho amigo (Aaron) que acaba por mergulhar numa investigação que põem em causa a culpa do acusado.
Paralelamente, o reactivar dos velhos contactos faz a personagem principal (Aaron) desenterrar um enorme mistério que marcou a juventude de Luke e Aaron. A obra segue assim este ritmo, intercalando a investigação do crime atual com as recordações do incidente passado.
As memórias surgem, as pistas, falsas ou verdadeiras, vão surgindo aqui e ali num par de mistérios que poderão andar de braço dado e poderão ter sido mal interpretados.
Ambas as histórias são bem construídas e apresentadas de forma aliciante, criando facilmente no leitor uma sede de resolução que nos agarra à obra.
Ainda que este não seja, como já disse, um policial de ritmo alucinante, é fiel ao próprio ambiente e mantém uma cadência constante e apropriada, nunca esmorecendo. O lento mas muito eficaz desenvolvimento dos intercalados mistérios é muito bem organizado.
Quanto ao final! É sabido que os ditos thrillers e a sua respectiva “qualidade” estão reféns do final, do desvendar dos mistérios. Sem qualquer spoiler, considero um óptimo e imprevisível desfecho, se bem que esse adjetivo depende da opinião (e perspicácia?) do leitor.
Um excelente livro, com uma escrita limpa, objectiva mas de grande qualidade, que venceu prémios prestigiantes como o de Thriller do Ano dos The British Book Awards e o Livro do Ano dos Indie Book Awards, assim como a distinção como quinto melhor Thriller/Mistério de 2017 no GoodReads.
Lamentavelmente, este é o único livro desta autora editado em Portugal, pela mão da @asa_editora. Para quando mais?
NOTA: 8/10

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