A VIDA SECRETA DAS ABELHAS, Sue Monk Kidd
A Vida Secreta das Abelhas
Todos sabemos que os livros - e outras formas de arte - pretendem acima de tudo causar reações e/ou sentimentos, sejam de que natureza for. Uns mais que outros, apaixonam-nos, enervam-nos, assustam-nos,... Porém, volta e meia surgem aqueles que nos abraçam mas sem nos fazer sentir nada de significativo, não sendo isso, ainda assim, algo negativo.
"A Vida Secreta das Abelhas" é isso! É uma agradável manta, nem muito quente nem fresca demais, que não nos faz sentir calor, também não nos deixa arrepiar, mas que inegavelmente nos agrada.
Mas não é por a obra de Sue Monk Kidd não ter temas impactantes que não é emocionante! As páginas retratam os anos 60 de uma América profundamente racista e a dificuldade dos negros numa sociedade branca e - muito interessante essa perspectiva - também a de uma branca na comunidade negra. A história tem episódios marcantes - e revoltantes - desse racismo mas, lá está, sempre narrados de uma forma "soft", sem sair de um confortável tom morno.
O problema da obra, na minha opinião, é precisamente esse. Embora seja inegavelmente bem escrita e de leitura muitíssimo agradável, senti sempre que podia ir mais além! Cria expectativas no enredo em que promete a qualquer momento "aquecer" as emoções, mas passa invariavelmente por esses "picos" quase discretamente. Só mesmo nas últimas páginas se dá algo que manifestamente acelera os batimentos cardíacos, mas sabe a pouco…
Não posso acabar sem deixar a nota da clara "coincidência" da estrutura inicial do livro - criança órfã de mãe, a viver com pai e uma governanta/criada negra - com o mítico "Mataram a Cotovia", de Harper Lee.
"A Vida Secreta das Abelhas" é um livro que apetece ler numa cadeira de baloiço, ao fim de uma tarde quente, num alpendre de uma qualquer casa rural do sul da América, com um copo de chá gelado ao lado (ou bourbon!). É um livro confortável, acolhedor, singelo… mas que podia ser muito mais.
NOTA: 7/10
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